O processo criativo não
é passível de definições. Isso ocorre porque nossos instrumentos de linguagem,
para estabelecer essas definições, estão entranhados de mecanismos racionais e logicizantes.
Querer racionalizar o
irracional, ou logicizar o jogo de forças, ou teorizar e lançar a teia da
gramática (a nossa linguagem) em fluidos artísticos da existência é deslizar no
escorregadio, é almejar a qualquer custo uma possibilidade inexistente, é se
frustrar diante de todas as empreitadas mentais – e por que não emocionais?
Mas há algo ainda pior
do que isso: agir e pensar em prol de um modus
operandi que prioriza somente predicados embrutecidos e embrutecedores da
vida é abdicar de considerar em sua totalidade as vertentes mais extraordinárias
da existência.
Vivemos de maneira
leviana. Vivemos de maneira empobrecida artisticamente. Vivemos de maneira
displicente. Vivemos de maneira apressada. Vivemos equivocadamente. Vivemos erroneamente.
Não estamos atentos aos acontecimentos internos que só existem na medida em que
pretendem nos comunicar algo. Algo sobre nós. Algo que, porque não atende a um
sistema universalizante e homogeneizante de subjetividades, não nos suscita a
devida atenção, o devido “olhar para dentro, para trás, para o lado”. Vivemos
acreditando fortemente que somos detentores das verdades e senhores das leis, as
quais somos diariamente subordinados de modo arbitrário e violento. Vivemos
estigmatizando aquilo que, eu espero, um dia nos salvará. E essa salvação não
irá se suceder – sequer reverberar – em outros planos possíveis de existência,
mas sim no aqui e no agora. Afinal, isso é tudo o que temos. E isso é muito.