jeudi 22 mai 2014



O processo criativo não é passível de definições. Isso ocorre porque nossos instrumentos de linguagem, para estabelecer essas definições, estão entranhados de mecanismos racionais e logicizantes.
Querer racionalizar o irracional, ou logicizar o jogo de forças, ou teorizar e lançar a teia da gramática (a nossa linguagem) em fluidos artísticos da existência é deslizar no escorregadio, é almejar a qualquer custo uma possibilidade inexistente, é se frustrar diante de todas as empreitadas mentais – e por que não emocionais?
Mas há algo ainda pior do que isso: agir e pensar em prol de um modus operandi que prioriza somente predicados embrutecidos e embrutecedores da vida é abdicar de considerar em sua totalidade as vertentes mais extraordinárias da existência.
Vivemos de maneira leviana. Vivemos de maneira empobrecida artisticamente. Vivemos de maneira displicente. Vivemos de maneira apressada. Vivemos equivocadamente. Vivemos erroneamente. Não estamos atentos aos acontecimentos internos que só existem na medida em que pretendem nos comunicar algo. Algo sobre nós. Algo que, porque não atende a um sistema universalizante e homogeneizante de subjetividades, não nos suscita a devida atenção, o devido “olhar para dentro, para trás, para o lado”. Vivemos acreditando fortemente que somos detentores das verdades e senhores das leis, as quais somos diariamente subordinados de modo arbitrário e violento. Vivemos estigmatizando aquilo que, eu espero, um dia nos salvará. E essa salvação não irá se suceder – sequer reverberar – em outros planos possíveis de existência, mas sim no aqui e no agora. Afinal, isso é tudo o que temos. E isso é muito.

lundi 25 février 2013

I'm a mess



Penso em muita coisa ao mesmo tempo. Esse é o meu problema. Pensar em muita coisa ao mesmo tempo o tempo todo me faz não parir nada de suficientemente memorável nem nada satisfatoriamente claro e distinto. Enquanto penso que penso em muita coisa ao mesmo tempo, já estou pensando em uma multiplicidade de outras coisas. É sempre tudo tão confuso e nebuloso e obscuro e entorpecedor e arrebatador e... E... E... Sem perspectiva, sem significado. Só vivo e me sinto imersa até o ultimo fio de cabelo em cada grão de vivência – em toda e qualquer vivência, da mais abismal até a mais medíocre. Não sinto falta de quem eu era nem de quem eu tinha. Não sinto falta do que vivi. Não sinto falta de pessoas que sentem a minha falta. Não sinto falta de momentos que continham um potencial inquestionável para serem lembrados eternamente com nada menos do que uma reação emocionalmente intensa como um arrepio ou uma lágrima. Não sinto falta de mim, e nem do “tu”, “ele”, “ela”, “nós”, “vós”, “eles” e “elas” que já ousei me tornar. Transitei por incontáveis mundos, experimentei cada vertente de suas transcendências dionisíacas e cada pó incômodo intrínseco a cada pingo de deleite. Em cada instante me sinto parte de um mundo diferente, e a partir das pulsões latejantes que clamam pelo intocável eu vou vagando como criatura incerta, traiçoeira, fugidia, fria, frígida, ora prolixa, ora lacônica. A única certeza que me pertence – ou eu pertenço a ela? – é tão-só a minha necessidade constante de incertezas. Não importa. Agora não tenho nem cabeça e nem tempo para crises existenciais – embora meu instinto mais profundo e pulsante e íntimo relute incessantemente em me persuadir a praticar o oposto do que a minha racionalidade castradora me impôs: esse instinto que, por algum motivo associado à configuração espaço-temporal da pulsão de forças, não se determina nesse instante como dominador, possui a pretensão de me fazer começar desde agora a problematizar esse “agora” (e todos os outros enunciados por almas profanas).

lundi 3 septembre 2012

Escrevo porque a escrita é a completude humana tornada tátil, comunicável. Escrevo porque o papel e a caneta me apetecem de igual modo que o sentimento do sublime me instiga. Escrevo porque, de todas as expressões artísticas, a escrita me é a mais legítima. Escrevo porque amo apostar todas as minhas forças em tornar visível o invisível, ou o vazio em invenção, e assim preenchê-lo de intencionalidades tão vivas quanto as cores das asas de uma borboleta. Sou tão feliz escrevendo, que mediria o tempo não em segundos e minutos, mas em palavras e frases: assim sentiria cada fração de instante como o voo sutil de um pássaro livre, desprendido, vagante e sem nada a perder - a não ser o peso rígido de uma existência escorregadia e de contingências cada vez mais errantes.

dimanche 24 juin 2012


"And I try to not dream
Up impossible schemes
That swim around, wanna drown me insane

And I don't know how
To slow it down"

samedi 28 avril 2012


Preciso libertar, como que catarticamente, um sopro no escuro. Quando meus pensamentos são concernentes à você tudo se intensifica, se inflama: o sopro, em seu vir-a-ser constante, torna-se furacão;  a lágrima, em sua timidez densa, torna-se oceano; a dor, em sua função de imprimir vitalidade, se potencializa drasticamente em um jorrar onde apenas o sangue cabe como predicado. Mas o devir encarrega-se de manter o fluxo continuamente, de modo que eu aprendi a encarar as turbulências mórbidas e intempestivas como apenas tempestades passageiras.  Superação é, também, absorção das vivências passadas (além do simples transcender estas). É ter força suficiente para digerir o – aparentemente – indigesto, porque o esquecimento só se faz ativo num espírito fisiologicamente bem preparado, saudável. Mas algumas vivências nos contaminam com a sua doença preenchida até a borda com niilismos devastadores e pulsantes. O desafiador, de fato, é manter-se forte em meio às armadilhas fatais presentes nas circunstâncias. O problemático é manter-se são em meio à toda tipologia de loucura, manter-se obstinado onde tudo que coexiste só faz ruir. Entregar-se ao que se é é também entregar-se e lançar-se indistintamente às circunstâncias, às categorias espaço-temporais – às quais estamos fadados a lidar até o último de nossos dias -, às determinações completamente dissociadas de atos da vontade.
Até que ponto é possível, referindo-se à natureza humana, exigir dela uma força integral, a qual presentifica-se só e somente em Deus? E onde refugiar-se na fuga de si mesmo quanto à questão da [ausência de] força? Não importa. Deus está morto, e a força intocável, infinita e inesgotável inexiste – mesmo na metafísica.
O volume de algumas vivências é tão denso e sublime que devasta partes minhas que eu nem reconhecia como existentes.

mardi 14 février 2012

samedi 3 décembre 2011

Eu só queria
Ter a fórmula
Do antídoto
Capaz de me fazer olhar pra frente e, sem dor, me enxergar sem você no amanhã.







Eu
Queria
Um
Depois



Tranquilo - com ou sem você.

jeudi 1 décembre 2011

Eu te amo. Incondicionalmente.
Se o amor basta ou não, não importa.
Se ele não é recíproco, não importa.
Se ele vai me matar, não importa.
Se me causa dores letais, não importa.
Se me provoca auto-destruição, não importa.
Eu vou continuar amando, apesar de.
Aquilo que me alimenta, enquanto mantém e prolonga a minha vida, me aproxima gradativamente da morte. E nesse abismo, entre vida e morte, eu vou te amando...até o meu último suspiro - mentira: te amarei para além de um mero adormecer, para além do falecimento físico. A morte se torna pó e é atraída pelo vento, vai embora... Mas o meu amor, maior e mais forte do que meu próprio eu, é capaz de transcender todas as escalas [in]imagináveis de definições humanas acerca da vida, da alma, do corpo.

"E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude."

Porque "todo grande amor só é bem grande se for triste".

vendredi 30 septembre 2011

Será possível que só com aquelas músicas nostálgicas eu consigo escrever? Será que meu único vínculo com o passado que me impulsona a voltar a ser quem eu era são só músicas que se perderam no tempo? Será que tudo que eu fui, eu já perdi de vista?

O presente me mantém nele de uma forma doentia, me prendendo e me fazendo escrava de atitudes infantis e imaturas e irresponsáveis. Não era pra ser assim. Não pode estar sendo assim. Esse peso eu nunca senti antes, e não digo que é o mais denso...mas talvez o mais impregnado de ramificações venenosas.

Necessidade de escrever é pouco: hoje eu sinto que o que me move transcende qualquer natureza que caracteriza uma simples necessidade.

O fato é que há um tempo eu venho me deteriorando com tudo isso que eu ando sendo por aí. E eu sinceramente não sei mais o que fazer pra quebrar esse fluxo, esse vício, esse destino.

Talvez meu eu atual seja inerente a tudo isso e só me caiba aceitar. Mentira. Não pode ser assim. Não posso lançar uma definição simplista e me acomodar nela por pura incompetência compreensiva acerca do que vem acontecendo comigo.

Costumo possuir um múltiplo de interpretações sobre casos particulares, mas sobre mim não encontro ao menos uma que se sustente por mais de determinado tempo (e esse tempo sempre me é tão curto a ponto de me despedaçar e neutralizar minhas bases - que eu julgava sólidas e que me causaram dor ao longo da sua construção).

Creio ser esta a crise de identidade mais perigosa de todas, porque pela primeira vez eu perdi muitas partes minhas – senão todas. A ontologia do meu pensamento diverge daquela da minha ação, que, por sua vez, se contradiz com as palavras que saem da minha boca.

Tudo que eu sempre quis está nas minhas mãos (não só mãos, como o corpo inteiro) e, ao invés de agarrar com unhas e dentes, eu me encontro cada vez mais longe disso, como se eu vivesse uma fuga permanente de tudo aquilo que um dia sonhei ser e que só cabe a mim materializar.

Chega de cansar, chega de fugir, chega de adiar, chega de me negar. Um pouco de ascetismo não faz mal a ninguém, pelo contrário: eu vou usar exatamente isso pra retomar minha sintonia com o eixo ideal.

E hei de me encontrar, nem que seja a minha última conquista não desfrutada por mim - conquistas dessa tipologia parece que já se tornaram rotina. Nem que sinta o gozo de tal realização por milésimos de segundos: no meu mundo, será o tempo suficiente para enfim entrar em contato direto comigo mesma (e a conseqüência disso será meu maior divisor de águas: ou me arranca a dor e me faz viver, exterminando minha potencialidade humana reprimida, ou me condena ao caos eterno e me mata num desses meus surtos que consomem até o último poro do meu corpo e a última gota de sangue que me faz errante).

Insisto em crer que a estagnação é exatamente o oposto de tudo aquilo que possa vir a ser constitutivo da natureza humana.