Preciso libertar, como que catarticamente, um sopro no
escuro. Quando meus pensamentos são concernentes à você tudo se intensifica, se
inflama: o sopro, em seu vir-a-ser constante, torna-se furacão; a lágrima, em sua timidez densa, torna-se
oceano; a dor, em sua função de imprimir vitalidade, se potencializa
drasticamente em um jorrar onde apenas o sangue cabe como predicado. Mas o
devir encarrega-se de manter o fluxo continuamente, de modo que eu aprendi a
encarar as turbulências mórbidas e intempestivas como apenas tempestades passageiras.
Superação é, também, absorção das
vivências passadas (além do simples transcender estas). É ter força suficiente
para digerir o – aparentemente – indigesto, porque o esquecimento só se faz
ativo num espírito fisiologicamente bem preparado, saudável. Mas algumas
vivências nos contaminam com a sua doença preenchida até a borda com niilismos
devastadores e pulsantes. O desafiador, de fato, é manter-se forte em meio às
armadilhas fatais presentes nas circunstâncias. O problemático é manter-se são
em meio à toda tipologia de loucura, manter-se obstinado onde tudo que coexiste
só faz ruir. Entregar-se ao que se é é também entregar-se e lançar-se indistintamente
às circunstâncias, às categorias espaço-temporais – às quais estamos fadados a
lidar até o último de nossos dias -, às determinações completamente dissociadas
de atos da vontade.
Até que ponto é possível, referindo-se à natureza humana,
exigir dela uma força integral, a qual presentifica-se só e somente em Deus? E onde
refugiar-se na fuga de si mesmo quanto à questão da [ausência de] força? Não importa.
Deus está morto, e a força intocável,
infinita e inesgotável inexiste – mesmo na metafísica.
O volume de algumas vivências é tão denso e sublime que
devasta partes minhas que eu nem reconhecia como existentes.
Aucun commentaire:
Enregistrer un commentaire